O heavy metal e o RPG, Parte I

Por Bardo Viking

Olá, caro leitor! Antes de mais nada, obrigado por ler este humilde artigo. Sou o Bardo Viking e, como todo bom bardo, tenho muitas histórias para contar. Minha esperança é que essas histórias possam ajudá-los com seus jogos de RPG – ou pelo menos, sejam divertidas de se ler!

Tanto o heavy metal quanto o RPG têm uma longa história, e às vezes elas interagem. Pretendo, neste artigo, mostrar um pouco sobre essa relação e também sobre como o heavy metal pode ser usado para incrementar as sessões de jogo.

Antes de mais nada, falemos um pouco sobre o heavy metal. Esse gênero musical surgiu no final da década de 60, começo da década de 70 – embora isso dependa também de qual banda você considerar que tenha sido a primeira banda de heavy metal, se o Black Sabbath ou o Judas Priest. (Opinião pessoal: o Black Sabbath foi fundamental para o surgimento do gênero, mas considero sua música ainda um “proto-heavy metal”; em minha opinião, o Judas Priest foi a primeira banda a consolidar e amadurecer o estilo.) Seja como for, o fato é que o heavy metal surgiu na Inglaterra, especificamente nas áreas pobres e industrializadas – os primeiros músicos metaleiros eram operários e/ou filhos de operários e conheciam bem as agruras que o trabalhador industrial inglês sofria, especialmente em um clima de repressão social e cultural (que só viria a piorar quando a Margaret Thatcher, a “Dama de Ferro”, tornou-se a primeira-ministra da Inglaterra).

Capa de CD do Black Sabbath
Capa de CD do Black Sabbath

“Children of the Grave”, do Black Sabbath

O heavy metal era uma música de rebelião, filho do rock’n’roll e irmão do punk rock. Era uma música que reclamava do fato que a voz do povo não era ouvida pelos políticos, que condenava a hipocrisia das instituições religiosas e governamentais e queria, acima de tudo, a liberdade – liberdade de expressão, liberdade de luta. Era a música de jovens irritados e revoltados que queriam, sim, destruir, mas também queriam construir algo novo. Veja isso em letras como as de “Breaking the Law”, do Judas Priest:

 

There I was completely wasting, out of work and down

All inside it’s so frustrating, as I drift from town to town

Feel as though nobody cares if I live or die

So I might as well begin to put some action in my life

 

(Lá estava eu, desperdiçado, sem emprego e deprimido

Tenho toda essa frustração dentro de mim, enquanto vago de cidade em cidade

Sinto que ninguém se importa se eu viver ou morrer

Se é assim, posso muito bem começar a deixar minha vida mais agitada)*

 

“Breaking the Law”, do Judas Priest

Sendo uma manifestação de rebeldia que buscava chocar e confrontar a moral conservadora das gerações anteriores e a repressão governamental, não é de se surpreender que desde cedo as bandas de heavy metal começaram a usar imagens satânicas. Não é que os músicos necessariamente fossem satanistas (embora alguns realmente fossem), é que mencionar, mostrar ou “louvar” (de mentira, claro) o Diabo é uma das formas mais fáceis de se chocar as pessoas. Não é à toa que o Black Sabbath tem esse nome – é uma referência à “missa negra”, nas quais as bruxas adoravam Satanás.

(Pessoalmente, não acho que os músicos do Black Sabbath eram satanistas de verdade; acho, sim, que eles eram simplesmente doidos – está aí o Ozzy, que não me deixa mentir.)

Capa de CD “satânica” (repare que o Diabo é um fantoche do Eddie, o mascote do Iron Maiden)

Depois dessa primeira geração de bandas de metal vieram outras, como o Satan, o Saxon, o Blitzkrieg, o Grim Reaper, o Iron Maiden… Essa é a chamada New Wave of British Heavy Metal, a “Nova Leva do Heavy Metal Britânico”. Infelizmente, muitas dessas bandas só fizeram sucesso nos anos 80 e não sobreviveram à década; algumas, como o Saxon, ainda continuam, e o Iron Maiden fez tanto sucesso que até quem não é metaleiro conhece, mas muitos grupos bons foram perdidos.

Capa de CD do Saxon

A propósito, o Grim Reaper tem uma música, a “Rock You to Hell” – a minha música favorita deles – que também mostra bem esse espírito de “dane-se o Sistema, lute por sua individualidade e por seus direitos!” que é a essência da origem do heavy metal:

What’s wrong with our society, is it fear or apathy?

Don’t let other people run your life

So those with power don’t use it, they simply abuse it

And believe me, that cuts me like a knife

(…)

Is this the beginning of a future?

No books, no sound, no rock’n’rol,

With only a few to fight the many

This is why rock’n’roll will never die

— 

(O que há de errado com nossa sociedade, é o medo ou é a apatia?

Não deixe que os outros decidam sua vida por você

E os que têm poder não o usam, só abusam dele

E acredite, isso me corta como uma faca

Será esse o começo de um futuro?

Nada de livros, nada de música, nada de rock’n’roll

Com poucos para lutar contra muitos

É por isso que o rock’n’roll nunca morrerá)

“Rock You to Hell”, do Grim Reaper

Bem, o heavy metal ainda tem muita história depois disso, mas não vamos explorá-la a fundo (ei, eu disse no começo que ia falar um pouco sobre o estilo!). Em vez disso, vou apenas fazer um breve resumo de algumas das principais vertentes do heavy metal (chamado, hoje em dia, de “heavy metal tradicional”, justamente para distingui-lo de seus subgêneros, que são musicalmente diferentes): o thrash metal, que surgiu na Bay Area de São Francisco com bandas como Exodus, Metallica, Megadeth, Testament e Nuclear Assault; o power metal, que surgiu na Alemanha com bandas como Helloween, Rage, Running Wild, Grave Digger (esta começou como metal tradicional, mas acabou virando power metal), Gamma Ray e Blind Guardian; e outros mais.

Na próxima semana, falaremos mais sobre as ligações do RPG com o Heavy Metal. Fiquem ligados! 😉

* Todas as traduções foram feitas pelo autor deste artigo. No caso das traduções de letras de músicas, não houve preocupação em preservar a métrica poética das canções.

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