A explosão dos zumbis na cultura pop, hoje visíveis em filmes, séries e videogames, remonta a um erro burocrático ocorrido na estreia de um clássico do terror em 1968. A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead), dirigido por George A. Romero, não apenas criou um novo subgênero no cinema, mas também entrou para o domínio público de forma inesperada, permitindo que qualquer um pudesse exibir, distribuir e até mesmo lucrar com o filme sem pagar nada ao diretor. Esse detalhe jurídico curioso mudou o futuro da obra e garantiu aos zumbis o status icônico que têm hoje.
Originalmente, o filme de Romero se chamaria Night of the Flesh Eaters (ou A Noite dos Devoradores de Carne), um título que hoje soa datado e menos impactante. Pouco antes da estreia, a equipe decidiu mudar o nome para Night of the Living Dead, um título mais sugestivo e instigante, que captava melhor o tom sombrio e aterrorizante da história. No entanto, esse ajuste acabou desencadeando um erro fatal: ao atualizar as cópias do filme para distribuição, o editor responsável pelo processo esqueceu de inserir a notificação de copyright obrigatória na nova versão.
A falta de proteção de copyright significou uma perda financeira significativa para Romero. Embora o filme tenha arrecadado cerca de 30 milhões de dólares nas bilheterias, Romero recebeu muito pouco desse valor. Como qualquer pessoa podia reproduzir e distribuir o filme, diversas empresas lançaram suas próprias versões do VHS e, mais tarde, DVDs, sem repassar um centavo para o diretor.
Além das perdas monetárias, Romero também perdeu o controle criativo sobre a distribuição do filme. A obra tornou-se uma presença constante em exibições de televisão e foi usada em outros filmes e programas de TV sem a necessidade de qualquer permissão ou pagamento de royalties. É comum, por exemplo, ver cenas de A Noite dos Mortos-Vivos na tela de fundo de outros filmes, um efeito direto de sua condição de domínio público.
Curiosamente, o acesso irrestrito ao filme acabou sendo um golpe de sorte para o subgênero zumbi. O fato de A Noite dos Mortos-Vivos ser domínio público fez com que o filme fosse exibido repetidamente em redes de televisão, tornando-o muito popular entre o público. Esse constante contato com a obra de Romero aumentou o interesse pelos zumbis e pela estética apocalíptica do filme.
Além disso, a ausência de copyright permitiu que outros cineastas e artistas se apropriassem livremente do conceito de zumbis. Romero havia reinventado os mortos-vivos, introduzindo-os como seres canibais, lentos e aterrorizantes, em vez dos tradicionais mortos-vivos do folclore haitiano, associados à magia e ao controle de terceiros. A partir daí, o arquétipo do zumbi como o conhecemos hoje — um cadáver ambulante faminto por carne humana — começou a ser amplamente explorado por outras produções, consolidando o zumbi moderno como um símbolo do horror e da crítica social.
Apesar de não lucrar diretamente com A Noite dos Mortos-Vivos, George Romero continuou explorando o universo dos zumbis e lançou outros filmes no mesmo estilo, incluindo O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978) e O Dia dos Mortos (Day of the Dead, 1985). Essas obras, com direitos devidamente protegidos, ajudaram Romero a obter retorno financeiro e consolidaram seu legado como o “pai dos zumbis modernos”.
A partir de seu trabalho inicial, os zumbis evoluíram para se tornarem um reflexo das preocupações e ansiedades da sociedade moderna. No universo de Romero, esses monstros simbolizam o medo do apocalipse, da perda de identidade e até mesmo da alienação e consumo em massa — temas que se repetem em obras como The Walking Dead e Resident Evil.
Talvez sem o descuido do editor ao esquecer o aviso de copyright, os zumbis não teriam se tornado tão populares e influentes na cultura pop. Esse erro burocrático permitiu que o conceito fosse explorado e reinventado inúmeras vezes, permitindo ao gênero de terror uma expansão sem precedentes. Se Romero perdeu financeiramente com A Noite dos Mortos-Vivos, ele ganhou em reconhecimento e impacto cultural, criando um legado que inspira filmes, séries, livros e games até os dias de hoje.
A Noite dos Mortos-Vivos é, portanto, um exemplo único de como o acaso pode transformar uma obra em fenômeno cultural. A liberdade com que o filme circulou abriu as portas para um gênero que hoje é sinônimo de crítica social e entretenimento, e tudo isso graças a um erro aparentemente pequeno, mas com consequências enormes.
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