Sem categoria fevereiro 23, 2014

ROBOCOP 2014 - Crítica de Cinema

ROBOCOP 2014 – Crítica de Cinema

Robocop 2014 posterRobocop é um bom filme, com uma abordagem moderna e bem diferente da versão original, o que não desaponta! Dou uma sólida nota 8 (de 10) para o filme como um todo, pois além de ótimos efeitos especiais, o argumento captura bem o dilema homem/máquina, enquanto há um tipo de conspiração comercial sendo engendrada como pano de fundo. A direção de Padilha é bem feita e extrai uma boa carga de drama dos atores, porém senti falta de um vilão mais visceral na trama e das contundentes diretrizes primárias que o herói era forçado a seguir na versão de Paul Verhouven. A música tema original está presente e foi um dos acertos do filme!

robocop-originalO filme de 1987 era uma dura crítica aos crescentes problemas de segurança e criminalidade dos Estados Unidos. Nele, fomos apresentados a uma corporação que privatizou o setor de segurança pública e desejava “salvar” Detroit da violência, mas que na verdade desejava criar uma nova cidade, totalmente sob a tutela das ações empresariais desta organização chamada OMNI Consumer Products (OCP). Naquela época acompanhamos a trajetória de um recém-chegado policial chamado Alex Murphy ao distrito mais violento de Detroit. Com um ar inocente e esperançoso, o novato faz parceira com Lewis, uma policial veterana e bem convicta de que a policia deveria ser mais do que um fantoche corporativo.

Além disso, vemos que há um matador de policiais à solta, chamado Clarence Boddicker e que, devido as restrições orçamentárias impostas pela OCP, os policiais de Detroit se unem para poder fazer greve por melhores condições de trabalho. O chefe de polícia do distrito apóia as ações de seus colegas mas afirma que precisa de alguém para proteger a cidade. Apesar de toda a ousadia e dedicação do novo oficial, este acaba por ser vítima de Boddicker, que protagoniza uma das cenas mais violentas e espetaculares do cinema da década de 80: o fuzilamento de Murphy. Deixado para morrer, Alex é salvo por Lewis, sua parceira. Em paralelo, há um joguete politico-economico entre dois executivos da OCP que desejam ganhar as bênçãos financeiras para seus projetos de segurança. Dick Jones apresenta seu ED-209, que se mostra um tanque defeituoso, e Bob Norton, que oferece a iniciativa Robocop.

Cuidado Spoilers!

Esta origem do filme original foi totalmente apagada na versão de Padilha. Neste, o roteiro mostra uma Detroit com alto nível de violência, mas não comercialmente dependente da OCP. A empresa é líder em Robótica e tem atuação no exterior com seus produtos de pacificação militar. Os dróides humanóides lembram em parte o visual do Robocop que será futuramente introduzido na história e o presidente da empresa, Raymond Sellars (Michael Keaton), é um babaca corporativo comum e sem nada especial. Somos apresentados a uma América paranóica em usar robôs para segurança dentro do país, mas a favor da política agressiva e imperialista no exterior. Há uma briga entre o senador Dreyfus e Sellars sobre a resolução envolvendo o uso deste tipo de coisa no país. O projeto Robocop é criado pela mão do presidente da OCP e necessita de um homem dentro da máquina para desestabilizar a lei Dreyfus e abrir este mercado para ele. Se a lei for derrubada, a empresa só tem a lucrar.

Alex Murphy não é mais um policial novato de rua e sim um detetive veterano em Detroit. Ele é parceiro do policial Jack Lewis, seu melhor amigo, para tentar prender um contrabandista de armas chamado Anton Vallon. A missão deles fica comprometida, dedurados por alguém de dentro da delegacia, enviando Lewis para o hospital enquanto Murphy sofre um atentado.

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Deste ponto, o filme aborda, de forma interessante, o passo a passo da construção do Robocop. Murphy tem plena consciência de que é um homem mutilado em uma máquina, diferente do original no qual ele não sabia quem era até investigar sua própria morte. A conversa entre o cientista-chefe e Murphy deixa claro o que sobrou do policial sob a armadura. Há uma boa dose de dramaticidade no diálogo e a cena impressiona, mas não se equivale nem de perto da realidade brutal do original, onde você sofre ao lado do herói quando, em um breve momento de consciência, ouve a decisão fria de Bob Norton de tirar o braço bom dele porque agora o corpo era meramente produto da OCP.

A esposa de Murphy é plenamente consciente da realidade do marido no novo Robocop e desempenha um papel importante para o herói de Padilha redescobrir sua humanidade após sua gradativa zumbificação mental.

Não espere ver as 4 diretivas que o herói é forçado a seguir e interpretar na sua programação, pois estes elementos tão essenciais a trama foram removidos nesta atualização e substituído por uma pulseira de brilho vermelho, que envia sinais aos produtos da OCP, impedindo que ataquem o usuário delas. Este foi para mim, uma das decisões do novo filme que não deveria ter sido feita. As diretrizes eram simples e impactantes em cada cena que o personagem tinha que tomar uma decisão no filme original, entretanto, aqui nem são mencionadas e a pulseira se torna a “Kriptonita” do policial ciborgue.

Aos que disseram que não haveria ação no filme, eu digo: erraram rude feio, pois tem ação de sobra em diversas cenas muito legais. No Robocop de Paul Verhouven, o herói é um tanque que se move devagar e precisamente distribui violência em doses variadas com sua pistola-metralhadora. O Robocop de Padilha é um ágil e veloz combatente que usa duas armas o tempo todo (uma metralhadora e uma pistola que dispara 50.000 volts contra qualquer alvo) e rapidamente derruba seus oponentes de forma eficiente.

Vai encarar punk?

Vai encarar punk?

A modernização do herói é interessante, mas nada que não tenhamos visto antes e filmes de ficção científica de futuros próximos como Minority Report, Vingador do Futuro (Total Recall) e, principalmente, “Eu, Robô”. A recente série de televisão Almost Human possui elementos futurísticos mais interessantes e criativos que o novo Robocop de Padilha, ainda assim o filme consegue divertir tanto quanto o original. Para muitos fãs do Robocop original, há o velho problema de mostrar o rosto do ator na maioria do tempo, com o intuito de ver o humano dentro da máquina. Lembrando que, no original você só vê Alex Murphy quando ele descobre quem ele é na realidade e remove o capacete. Nessa versão, o capacete é retrátil e a visão do rosto do herói humano e do rosto da máquina até que funciona, pois há um momento em que se explica que quando o visor baixa é a máquina que assume o comando, deixando Alex como passageiro, apesar dele achar que está tomando as próprias decisões.

Infelizmente, os únicos vilões presentes são Mattox, um soldado-capanga responsável pelo treinamento militar do Robocop (que nem chega à unha do pé de Clarence Boddicker) e o próprio presidente da OCP que não tem o mínimo para ser um bom vilão do mesmo nível que Dick Jones. Samuel L. Jackson está ótimo no papel do jornalista/apresentador de telejornal sensacionalista Pat Novak, que serve ao propósito da mídia maniqueísta. Ele é um dos pontos altos do filme, garantido.

Sobre as homenagens, uma pena, mas não há mais comerciais de produtos em meio à trama, não há greve de policiais e nem o suporte dos mesmos quando Murphy está sendo antagonizado pela OCP. Padilha, ainda assim, conseguiu encaixar menções ao filme original mantendo inicialmente o visual clássico prateado do herói e as frases jargão que ficaram famosas na época. Mas falta ao novo Robocop aquele estilo descontraído e ousado de narração que foi sua assinatura.

Resumindo, é um bom filme. Vá ver sem grandes pretensões e tenha uma ótima diversão.

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