Dragões surgem e Westeros treme: resenha de A Dança dos Dragões

Resenha por Renata Vidal*

Terminei de ler “A dança dos dragões” de George R. R. Martin. Como normalmente ocorre em seus livros, exclamei muitos palavrões, seguidos por “QUÊ?”, “HÃ?” e “COMO ASSIM?”. Martin tem desses efeitos e parece ser dotado de um sadismo especial no que concerne os finais de livros. Excelente para ele, os fãs contam os segundos para o lançamento do próximo e não à toa é uma série best seller – uma proeza, diga-se de passagem, se considerarmos o tamanho de cada volume e a preguiça de leitura que todo mundo alardeia por aí. Fato é que livro que é bom nunca é grande demais, as pessoas leem e querem mais, muito mais e mais ainda.

Atrasada em relação aos amigos, tinha parado no volume 2, que considerei mais monótono do que os demais (comparativamente, tá). Mas, com a tão alardeada chegada do 5 nas livrarias (e todo o problema que teve com a edição, ver PS abaixo), fui lá eu me atualizar. Oba, 3 livros seguidos de uma vez, assim é bom. Li o 3, o 4 e o 5 em cerca de dois meses. Nem achava que seria tão rápido, mas realmente esses 3 últimos volumes se superam na quantidade de acontecimentos e emoções, muito mais movimentados do que o 2. Todos eles ganharam uma exclamação de baixo calão ao final. Não de modo depreciativo, muito pelo contrário. Martin deixa o leitor sem fôlego, querendo correr feito louco para o próximo livro.

Quando os dragões surgem, Westeros treme: resenha de A Dança dos Dragões

Ele não tem dó, todo mundo já ouviu falar disso. Ele mata sim personagens cativantes, que você tão hollywoodianamente acreditou que fossem herois da história com desejados finais felizes. Não. O autor mói suas tripas mesmo com essa mania de matar Starks principalmente (sem querer spoilizar, se você está lendo esse artigo, supõe-se que já passou por isso).

Agora ao fim do volume 5 e sabendo que há pelo menos dois anos de espera pela frente para ler o próximo, o palavrão é mais intenso, seguido de preces aos Sete, aos Deuses Antigos, ao Deus Afogado e a Rh’llor para que abençoem, protejam, iluminem e sobretudo conservem em boa saúde nosso amado Sor Vovô da vida real. Sim, porque Martin faz 64 anos agora em Setembro e um dos maiores pesadelos egoístas que nos assolam é que ele morra antes de concluir a série.

Os dragões surgem e Westeros treme: resenha de A Dança dos Dragões

Especulações amorosas enquanto Seu Lobo não vem…

Além da trama bem construída que leva a um amor quase fundamentalista dos fãs, os personagens são cativantes, tridimensionais, todos sem exceção. Eles são bons e ruins ao mesmo tempo, podem ser gloriosos mas também cometem erros, uns mais do que os outros e essa medida é proporcional ao nosso amor. Mas todo mundo tem seus queridos na série e às vezes esses variam também. É difícil falar do volume 5 sem cometer um spoiler, principalmente com as coisas tão frescas. Dá uma necessidade louca de externar. Mas então resolvi falar dos meus favoritos e de uma certa corrente especulatória.

Tyrion Lannister resenha Dança dos DragõesTyrion e Cão de Caça são criaturinhas complexas muito amados por mim até o livro anterior. Adoro um enjeitadinho que usa seu sofrimento interior para se superar e um durão de coração mole (bem lá no fundo, ok), todos poderosos à sua maneira. Mas nesse livro, nada de Clegane, supostamente morto no anterior (quem comprou essa ideia? eu não). E Tyrion, bem, não se supera tanto nesse livro. Foi xoxo.

Daenerys nunca me decepciona, ela é a heroína perfeita e vamos torcendo por ela até o fim, mas há já uma tranquilidade inerente. A gente simplesmente sabe que ela é fodona o suficiente para superar obstáculos, inimigos e o que mais vier. Pode mandar! Mesmo com o final meio angustiante desse livro, não, não ficamos receosos de verdade por ela.

Jon Snow: Resenha Dança dos DragõesMas Jon Snow… você não sabe nada… E ao fim desse livro, foi esse meu mar de angústia. Tive um negócio, dois trequinhos e três siricoticos, com muitos palavrões. Martin mexeu num vespeiro muito sério. Amo Jon Snow como se fosse de carne e osso. Aliás, os Starks têm essa característica, te despertar um amor intenso, você simplesmente quer lutar por eles, torcer por eles, rezar por eles, casar com eles. Bom, eu pelo menos. E Jon, ah, é meu querido.

Enquanto Seu Lobo não vem, me controlo com os spoilers e me atenho a especulações de puro amor de fã, vou compartilhar uma delas (se não quer saber de correntes especulatórias, pare por aqui).

Há quem diga que Jon Snow seria filho de Lyanna Stark e Rhaegar Targaryen (não, não é spoiler, é especulação mesmo e nada tem a ver com o final desse livro). Chocou? Bom, eu sim e olha que costumo adivinhar acontecimentos de livros, séries e filmes; em geral seguem um padrão. Mas falando de Martin, surpresas, reviravoltas loucas sempre vêm e essa seria bem típica dele. Além do mais, isso simplesmente explicaria uma pá de coisas. Uma delas é que Ned Stark teria sua honra invicta, dizendo por aí que tinha tido um bastardo quando só procurava proteger a reputação da irmã, encaixa bem demais no caráter dele. Explicaria a misteriosa morte de Lyanna com sangue, poderia ter sido no parto. Também ficaria mais compreensível esse mistério todo sobre o parentesco de Jon, porque sempre que tem um mistério em livro/filme/etc é porque há algo relevante aí, a menos que Martin resolva ser do contra mais uma vez. E o melhor de tudo, com isso meu sonho dourado de ver Jon todo todo poderoso montando um dragão e acabando com os Outros seria perfeitamente plausível. O dele? Bem, seria Viseryon, branco como seu lobo gigante, chutologicamente eu diria. Não sei vocês, mas fico morrendo aqui para que Jon e Daenerys se encontrem. Não parecem um par incrível? Enfim, tirando esses delírios de casalzinho, não consigo deixar de imaginar que Jon seja uma das cabeças do dragão. Mas tudo isso, caríssimos, é pura especulação, porque o fim dessa história pode ter sido realmente bem diferente mesmo. Você não sabe nada. Sofro. Então, por enquanto, oremos:

“Sou a espada na escuridão. Sou o vigilante nas muralhas. Sou o fogo que arde contra o frio, a luz que traz consigo a alvorada, a trombeta que acorda os que dormem, o escudo que defende os reinos dos homens.”

PS: Aqui cabe também um comentário sobre a falta de revisão adequada da edição brasileira da Leya. Felizmente resolveram o problema do capítulo perdido de modo muito eficiente e elegante, devo dizer, acrescentando a isso uma revisão de todo o livro que eliminou também coisas constrangedoras como o corvo de Mormont ficar falando milho ao invés de grão, como foi em toda a série. Na edição substituta, voltamos ao grão e não há mais tantos erros. Mas ainda existem, o que é uma pena.

*Renata Vidal, Primeira de Seu Nome, a Não Queimada, Serpente de Fogo, Mãe de Felinos, Afilhada de Afrodite, Sétima Filha de Darth Vader nessa realidade paralela, tem 3 vícios na vida: livros, sapatos e cigarros. Passa horas na biblioteca de sua casa suspirando apaixonadamente. Trabalha como escriba, tem gostos literários medievais, um coração antiquado e adora um cavalheirismo demodé. Cresceu em um pequeno castelo, com espadas e mosquetes na parede, construído por seu papai Darth, sendo iniciada desde cedo nos arcanos mistérios de Tolkien, Dumas e outros iluminados para quem ora todas as noites com bençãos de gratidão. Martin também ganhou um lugar em suas preces.

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